segunda-feira, agosto 28, 2006

AS MUITAS DE MIM

AS MUITAS DE MIM!

(À Cora Coralina)


Ah, meu Pai,
Quantas que eu sou!
A médica fez curativos
Em filhos, netos e amigos!
A advogada cuidou
De casos de amigos e parentes
- nem sempre ao gosto de todos.
A professora se apaixonou
E tentou compreender.
A comerciante fracassou!
A administradora
Jogou água fora da bacia.
A cantora desafinou tanta canção,
De todo coração!

E também, Cora,
A prostituta quanto amou!
E sempre foi muito alegre e generosa.
E quanto fantasiou!

(Mas, tenho que confessar:
Nunca soube cozinhar como você!)

E que mais me criticar, Rita (Gilda) Hayworth?
E que mais eu quis fazer, Sebastião Salgado?

Não sei quantas de mim
Ainda podem viver,
Mas dai-me tempo, Senhor:
E ME FAÇA APRENDER!

( ZSF/SP - agosto/2002)

AO MEU PAI

AO MEU PAI



Por causa do amor de uma irmã,
Descansaram sobre rosas vermelhas
As mãos de meu pai -
Que teceram meias femininas,
Criaram orquídeas,
Pecaram pequenino,
E que amaram demais.

E essa é a verdade mais terrível
Do que o sonho de pão, de rosas e poesia
Que meu pai viveu.

E hoje me contaram (mas nunca me ocorreu)
Que é o sonho que alimenta
Toda a classe operária a que ele pertenceu.
Toda mesmo? Não sei...
Do pão... meu pai esqueceu...


Mas tudo ficou muito estranho,
Depois que meu pai morreu.


(ZSF/ SP - 08/ 2002)