segunda-feira, abril 09, 2007

RECADO NA FILA DO ÕNIBUS

RECADO NA FILA DO ÔNIBUS

Garota,
Aquele rapaz de "blue-jeans", quase no fim da fila,
Quer falar com você.
Ora! Não quer? Por que?
Acho até que faz mal.
Ele tem olhos azuis
E um sorriso tão legal!...

Não vai devolver-lhe o olhar?
Aqui ele não pode vir
Pois, se abandona o lugar,
Vai perder o ônibus e, talvez,
Até mesmo, o futuro de nós três.
Diga para onde vai. Prometa esperá-lo
E daqui a três ônibus você vai escutá-lo
Falar de amor.
Porque é difícil escrever poesia
Na fila de ônibus que sempre detestou.
Bem que ele tentou!
Mas, então,
Ele sempre a fotografa
(Com máquina-imaginação)
Antes que o ônibus-casulo roube a sua imagem
E sua sombra do chão.
Ah! você nem desconfia
Que renasce borboleta em sonhos e poesia!
Finja gostar de poesia: por que não?
Você sabe o que se sente
Em uma vaga de pensão?
Ele viu você ler fotonovela
E, agora, quer ser seu par.
Ele quer um "happy end" com música, flor e vela,
Sem nada mudar.
Que tudo acabe bem, como nessas histórias
Tão diferentes daquelas que me contam
Roupas surradas, sapatos velhos,
Camisas sem botão...
E este maldito horário de condução!
Escute (deixe que insista),
Talvez, entre vocês, a fidelidade resista
Às histórias que escutei.
Garota, você quer?
Posso trocar com ele meu lugar da fila
(E, com você, meu lugar de mulher).
Não tenho pressa de chegar,

A nenhum lugar
Dou-lhes de presente este meu tempo inútil,
Este meu verso fútil
E meu resto de fé.
Continuem sonhando as possibilidades que sonhei...
E... diga que foi este o recado que deixei.
(ZSF/ SP - 1983/1984)

SER OU NÃO SER

SER OU NÃO SER...?


Eu fui? Eu quase fui!
Quem pensava que eu fosse e não queria...
E eu que tanto queria!

Quanto custou acreditar na dor
Que eu não sabia!

Que serei eu agora
Que já não mais sou?


(ZSF-17/07/1985)