segunda-feira, maio 26, 2008

RAPSÓDIA SOBRE UMA NOITE DE VENTO

Autor: T.S.Eliot
Tradução: Ivan Junqueira

Três e meia,
O lampião cuspia,
O lampião no escuro resmungava,
O lampião zumbia:
"Olha a lua,
La lune ne garde aucune rancune,
Pisca um olho tímido,
Sorri pelas esquinas,
Alisa os cabelos de gramínea.
A lua perdeu a memória.
Bexigas descoradas ulceram-lhe a face.
Suas mãos retorcem uma rosa de papel
Que recende a pó e água-de-colônia.
Ela está só, em companhia
De todos os antigos eflúvios noturnos
Que lhe cruzam e entrecruzam o cérebro."
Aflora a reminiscência
De secos gerânios pálidos
E de poeira nas frinchas,
Aroma de castanhas pela rua,
E odor de fêmea nas alcovas clandestinas,
E de cigarros pelos corredores
E de coquetéis nos bares.
O lampião disse:
"Quatro horas,
eis um número sobre a porta.
Memória!
Tens a chave,
A luminária alastra um círculo na escada.
Sobe.
A cama é franca; a escova de dentes pende da parede,
Põe teus sapatos junto à porta, dorme, para a vida te prepara."

A última torção da faca.

4 Comments:

Blogger Suzana said...

Estranho...não sei porque remeteu-me ao livro O PERFUME!
Obrigada por suas visitas

bjs

10:58 PM  
Blogger Ernesto Dias Jr. said...

Que bom ver TS enfeitando o teu espaço. Muito bem escolhido, diga-se.
Abraço, amiga.

8:49 PM  
Blogger Maria said...

Lindo poema nas magicas luzes do lampiâo. Beijos

8:54 AM  
Blogger Jorge Lemos said...

Zuleica.
Obrigado por me restituir T.S. Eliot, este monstro universal das letras.
Creia: busquei este poema por mais de 30 anos. Havia perdido o original. Nele me inspirei para escrever "Sinfonia para uma noite Triste".
Gratíssimo, amiga.

9:49 AM  

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